horas pelas ruas até o limite.
é uma aventura, para mim que exerço isso como um evento fora da rotina. mas quero partir de onde moro até o centro. ultrapassar esses anéis. o primeiro já é limitado pela avenida rondon pacheco onde preciso "carregar a companheira" nas costas para transpor e encarar a subida do bairro lídice e fundinho. aqui eu já passei por loteamentos do setor sul e patrimônio. A relação da bicicleta já de início passa para o "empurrar a bicicleta morro acima". um espaço urbano que se transforma rapidamente, propondo táticas de lida com o lugar, hora com descidas frescas e hora com subidas quentes. enfim. já no centro (outro anel, ou a mistura de todos eles), resolvo encarar (com o termo "detonar", utilizado por gláucio aqui, na cabeça) esse "tumulto". ou eu dou lugar o tempo todo aos outros maiores e não saio do lugar ou eu me faço presente. opto pela segunda e me sinto um estrangeiro na própria cidade. o tempo da bicicleta alí naquele contexto me faz achar graça. nunca tinha sentido falta disso. um tempo contemplador. porque vivemos com as determinações de que o centro é isso, é o caos, é a ilegalidade, o comércio informal, os bancos, essa mistura toda. tive espaço sim. correndo riscos mas tive. um passeio pela avenida afonso pena às 12 horas.
encontro no mercado municipal a possibilidade de almoçar com minha companheira bicicleta sem cadeado ao lado.
sigo através do bairro martins (ultrapassando para outro anel) novamente. uma leve subida. e encontro um bairro até bem animado por uma experiência de escala interessante, dada por suas características históricas de ocupação com uma mistura de uso. chego no topo e começo a descer até o limite: a rodovia e os pés do bairro roosevelt. sinto uma vida que acontece muito além daquilo que frequenta minha memória. lugares em que a janela cumpre seu papel no limite com a calçada.
para transpor esse anel, vou buscar um carro e volto.
Retorno ao centro, sigo sentido canal joão naves e dalí chego ao campus santa mônica. pego uma carona de volta ao bairro martins onde eu e vir vamos conferir um objeto curioso. um "predinho" que junto com seu entorno configura um contexto percebido apenas ao pedestre e ao ciclista (imagens deste lugar no último vídeo da postagem anterior).
do centro meu destino é minha casa. não poderia ser outro. busco o canal francisco galassi, que é uma avenida conhecida e inserida no bairro patrimônio, um dos locais de origem da configuração urbana uberlandense. o hábito de transitar dentro do carro por este lugar foi bom. bom porque, pela primeira vez em mais de quatro anos, passo a pé por esta avenida, empurrando a bicicleta, e tenho o contato de uma única vez com a grande desocupação dos imóveis e cômodos (muitos ainda de tijolo de barro) deste lugar. um lugar que vai se descaracterizando pelo tempo. e não deve ser por vontade dos próprios moradores. penso que é como uma pressão não muito consciente de que alí é a "zona" sul. chego em casa pensativo e cansado.
vou escrever somente mais um pouco sobre esse fato de viver em um espaço onde não coloco meus pés no chão. é incrível.
quantos lugares que eu acho que conheço, mas que eu nunca pisei.
nenhuma experiência pode ser comparada com a experiência do corpo. a mente não consegue estabelecer uma relação imaginária do que é ocupar certos lugares, baseado em qualquer conhecimento teórico que for. é furada.
as largas avenidas de conexão aqui desta cidade nada tem a ver com liberdade de trânsito e de possibilidade de ocupação e trocas espacias e muito menos sociais. vivemos uma uberlândia segregada por limites socias. embora os limites espaciais devam ser considerados pelo custo que significa transpor anéis. me senti muito feliz em ver que a bicicleta nos oferece uma liberdade que está entre o "poderoso" motoqueiro (que gasta gasolina) e o livre pedestre (com limite de percurso). uma novidade.
percebo que existe uma cidade para cada. poucas possibilidade de se tornar coletivo. uma cidade que é dada pelas possibilidade de transposição particular de cada pessoa. e pronto. quando essa possibilidade permite grandes transposições, elas estão vinculadas aos interesses e os espaço que existem entre os pontos de interesse são apenas os que estão dentro do carro, dentro do capacete, dentro do ônibus... uma inexistente densidade (graças a intensa especulação imobiliária tradicional em nossa cidade) que não faz diferença para o cotidiano enquanto o uso do espaço estiver limitado pela escala da moradia e das quatro pistas.
bairro fundinho
martins_rodovia_roosevelt
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ResponderExcluirLendo sobre o que você disse sobre o Patrimônio e levando em consideração que hoje é 13 de maio, me deu vontade de comentar sobre outro domínio dos espaços: não o domínio do indivíduo. O domínio do coletivo em torno de determinada ideologia: o domínio político. A "cidade" desde sua origem tenta digerir e expurgar o bairro Patrimônio. De origem desconhecida, o antigo aglomeramento de negros recém-alforriados, aproveitados para trabalharem de salgadeiros nas charqueadas às margens do Uberabinha, trabalho que nenhum "branco" se disponibiliza fazê-los. A região era intensamente poluída pelos odores da charqueada. Os terrenos nada valiam. Mas, com a retirada desses equipamentos poluidores, a região se tornou extremamente atraente para os olhos imobiliários, que achou boas brechas no modo de vida simples dos negros: ocupavam o espaço desde o princípio da cidade, mas a própria cidade os negava: nos mapas de 1940 não havia o cadastro desse bairro. Os moradores não tinham escrituras. A água do bairro vinha de um rêgo, que alimentava todas as casas. Quando a empresa municipal de água e esgoto tentou instalar água encanada, os moradores se rebelaram e não "confiavam" numa água que não se podia ver a origem, que vinha "escondida". Nos anos 1990, com a abertura da Francisco Galassi (aliás, que nome!) várias famílias foram desalojadas e, mesmo sob protestos, tiveram suas casas destruídas por patrolas. Vários se recusaram a sair de casa, mas as patrolas não se importavam. E assim, a cidade ambiciosa vem trazendo as "melhorias" para "todos".
ResponderExcluire o melhor, ou pior: a melhoria é sinônimo de uma casa entre milhares nos conjuntos populares. alí todos os problemas estão resolvidos. água, luz, água, luz... e avenidas largas até lá perto. e o caminho aberto para facilitar a expansão desta área, que por azar está justamente no eixo entre centro e setor sul. é uma pena!
ResponderExcluirAriel... experimente agora, você, a vivenciar a praça Sérgio Pacheco... Essa semana estive por lá quase todos os dias fazendo levantamento... Sem brincadeira, é estranho... Diferente do que estar lá num domingo de arte na praça... Você sai do centro conturbado, quente, barulhento e caótico e entra em uma áurea, num silêncio e num clima aconchegante. Tá, nem tão silencioso, tem o barulho das folhas se batendo, da bola rolando, dos pés correndo e dos cachorros latindo e brincando, onde brincam também as crianças e me pergunto, "porque elas não estão estudando?Hoje é sexta-feira de manhã." E sinto sim que é possível um espaço coletivo, é possível e existe em meio ao centro de uma cidade tão segregada...
ResponderExcluirFiquei feliz,hoje!
ariel. tá tudo uma beleza só, hein? to dentro da mesa. pq vc sabe, né? eu, sou mais de...
ResponderExcluirlegal usar uma mesa pra falar de janelas.
Você tem literalmente um olhar arquitetônico e junto dele aquela sua sensibilidade de sempre!!!
ResponderExcluirSaudades Lilo (rsrs desculpe, força do hábito....
Bjs