esse tempo de intensa reflexão teve um fim diferente daquele que eu imaginei. ao invés de virar uma página e deixar outras experiências pra lá, eu vi que esse grande capítulo continua.
uma idagação permanente e quem sabe até particular, sobre essas nossas ações públicas, constantes e mutáveis.
durante dois meses, após ouvir uma banca afiada, bati a cabeça sobre aspectos levantados por quem conheceu este trabalho de uma vez. o mais assombroso nesse tempo foi investigar caminhos de intervenção (ou composição/...) num espaço que também é meu. desenvolvi uma leitura particular de um espaço vivo. vivo porque essa leitura resulta de um processo em que estou incluído como agente de alguma ação, mesmo que seja a ação de percorrer sem rumo, mas de qualquer forma um espaço que me inclui como parte sua, e com isso, seria difícil retirar meu corpo e olhar como acontece a dança das relações alheias. acredito que assim eu estaria assumindo um papel que, além de aéreo, marcaria uma posição de arquiteto urbanista que não cabe nesta escala de cidade onde a vida acontece na sua essência.
esta minha posição diante a cidade relacionada com a ação de intervenção no espaço público foi vista como contraditória por uma parte da banca, pois julgou minha participação (homem, corpo e arquiteto) como de extrema influência na leitura, como se dificultasse a entrada do "outro" nesta festa. mas nisso, eu sou o outro também, com os mesmos sentidos e possibilidades. a única diferença é a ação posterior à esta experiência do espaço urbano, mas que no momento em que acontece é banal como qualquer outra.
se a cidade sentida for fria e superficial, isso não nos leva a entender melhor este espaço? não é ele que, sutilmente nos sugere as relações com ele mesmo ou com a entrada de tantos "outros" em nossa história?
a idéia é refletir sobre uma vida que também é minha, e largar a carapuça de especialista no momento em que o que mais importa é vida. (niemeyer aqui?).
bem... após entender melhor o que se passou na primeira etapa de leituras, fui também questionado sobre o resultado desta mesma leitura enquanto ação coletiva. pois a ação pode ter sido vista com excesso de agressividade, como se aí sim o arquiteto tivesse aflorado e dado nome aos bois que pastariam alí naquela área "verde" do bairro jardim das palmeiras. ouso afirmar que esta ação, registrada aqui anteriormente, embora ativada a partir de mecanismos definidos pelos proponentes, está amarrada na leitura anterior e é consequência das experiências vividas, não só por mim (mas que só puderam ser sentidas pelo meu próprio corpo) e transformadas em novos sentidos de apropriação do espaço. não acredito que este caminho seja o mais claro e mais fiel à nossa cidade, mas é o que percorri a partir do que fui capaz de apreender da cidade, aí sim, com uma possível sensibilidade obtida na escola de arquitetura e urbanismo, mas não menos mortal.
o processo de envolvimento e construção de uma vida momentânea e coletiva (nem sempre possível) se deu como consequência da ativação de um espaço, mas que foi ativado a partir de aspectos cotidianos da vida daqueles que passaram por aí e criaram então outro tipo de relação com o espaço que eles mesmos sugeriram, inconscientemente.
como consequência da agressividade (superficialmente falando, vista a origem da ação) registro aqui o desenrolar de parte disso.
naquele dia, no embalo do potencial daquele lugar ensolarado, seco e ocre, foram instalados dois balanços em um pé de pequi. daqueles com uma corda e um pedaço de pau na ponta, de forma que a gente senta com a corda no meio das pernas. dias depois uma mãe já deu um jeito de tirar os pequenos entulhos que estavam embaixo da árvore para a segurança das crianças. mais alguns dias depois os dois balanços deixaram de existir e se tornaram um só. agora, daqueles com duas cordas nas extremidades e uma pequena tábua para sentar. assim todos podem usar, já que aquele era desconfortável para pequenas crianças e limitado para os adultos. agora, três meses depois o balanço está lá, adaptado à todos e com as mesmas cordas, assim como o mato que cresce rápido com a água das chuvas desta época e o adubo que foi colocado na horta que já não existe. dizem que foi por causa das formigas...
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
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certeza que foi a barata preta!
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